Segundo a Prefeitura de Mogi, a demanda de atendimento na UPA do Rodeio cresceu entre 20 e 25% nos últimos anos. Desde fevereiro do ano passado, o Hospital Luzia de Pinho Melo não funciona de portas abertas. Moradores de Mogi enfrentam dificuldades para serem atendidos nas UPAs da cidade
Mogi das Cruzes tem três Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) que funcionam 24 horas por dia. Este tipo de serviço está equipado e preparado para resolver grande parte das urgências e emergências como crises hipertensivas, febre alta, cortes, infartos e derrames. Esta informação está no site da prefeitura, mas quem precisa dele na prática fala que tem sido bem assim, especialmente na unidade do Rodeio.
A lágrima nos olhos de Luciana Rodrigues de Oliveira é de revolta. O irmão dela, de 41 anos, é autista e precisou de atendimento médico depois de ter desmaiado na casa onde mora com a mãe em Mogi das Cruzes.
“Ele bateu a testa no móvel da sala e ali ficou uma lesão, um hematoma na testa. E ela colocou na ficha queda. Então, assim, quando eu fui para a observação, a enfermeira me informou que ele faria uma radiografia por causa da batida na cabeça”, disse Luciana.
Sem conseguir fazer a tomografia, ele acabou tendo alta, mas precisou procurar novamente atendimento médico no dia seguinte. Luciana conta que até entrou em contato com a Secretaria de Saúde querendo saber se poderia levar o irmão direto no Luzia, mas a resposta foi que era obrigatória a passagem pela UPA.
“A médica não colocou a mão no meu irmão. Ela falou que conversaria com outro profissional para eles discutirem o caso, o que seria feito, devido, era uma reincidência e ele tinha voltado com alta do SUS. Então, logo ao voltar ela me informou ‘ele vai ser transferido no programa Cross’, isso por volta das 15h e até as 20h30, mais ou menos, que chegou uma médica lá para conversar comigo me informando que ele não estava no programa Cross”, explicou a dona de casa.
A UPA do Rodeio tem atendido, por mês, cerca de 10 mil pacientes. Ainda segundo a prefeitura, a demanda cresceu entre 20 e 25% nos últimos anos. No final do mês passado, numa conversa com os vereadores na Câmara, o secretário de Saúde de Mogi das Cruzes falou sobre o atendimento nas UPAs.
“A Unidade de Pronto-Atendimento ela não deve ter pacientes internados. E muitas vezes a gente fica com paciente lá vários dias. E aí vem a reclamação, porque é uma Unidade de Pronto-Atendimento, ela não tem alimentação, ela não tem uma série de coisas que um hospital tem. Isso tudo por falta de vaga e infelizmente, a gente sofre realmente esse problema. A gente tem, até certo ponto, priorizado o Hospital Municipal para os casos de pacientes de Mogi porque, como o doutor Megale disse, existem casos de que pessoas de fora de Mogi são orientadas pelas consultas nas suas cidades a virem para a upa rodeio para serem inseridas no Cross para irem para o Luzia. Teve um caso que, agora eu me lembrei, um caso de Itaquaquecetuba, o indivíduo tinha tido um AVC e bateu na porta do Luzia com carro próprio. O Luzia deu um papel dizendo, eu tenho esse papel, a recepção do Luzia deu um papel grifado assim: procurar a UPA do Rodeio. O cara é de Itaquaquecetuba. Foi para a UPA do Rodeio, inserido no Cross, e depois voltou para o Luzia. Mas quanto tempo ele perdeu nisso? Era um AVC. Então, esses problemas nós realmente temos e isso é constante”, disse o secretário Zeno Morrone Júnior.
UPA do Rodeio é um dos caminhos para pacientes conseguirem transferência para o Hospital Luzia de Pinho Melo
Desde fevereiro do ano passado, o Luzia de Pinho Melo não funciona de portas abertas. Só recebe pacientes que são transferidos via Cross. A Cross é uma central de regulação que cruza informações de pacientes que precisam de atendimento com hospitais referências e com vagas.
‘Eu já entrei em contato com o pessoal do Luzia, o doutor Luis, extremamente solícito, já entendeu a situação e a gente já acertou um fluxo mais rápido. Fizemos uma comunicação para todas as nossas unidades com esse novo fluxo. Faz o Cross, porém liga para lá e já resolve, tá? E pega a ambulância e manda o mais rápido possível”, explicou o secretário.
De fevereiro de 2021 para cá, segundo a prefeitura, o quadro de funcionários da UPA não sofreu alterações. De dia, a unidade conta com quatro médicos, três enfermeiros, dez técnicos e três recepcionistas. À noite são três médicos, também três enfermeiros, nove técnicos e duas recepcionistas.
O irmão de Luciana continua internado no Luzia e, segundo a família, o estado de saúde dele é grave e pode ser irreversível. Além de buscar respostas para o que aconteceu com a falta de atendimento na UPA do Rodeio, ela alerta: a saúde em Mogi também está pedindo socorro.
“É uma questão de gestão. Eu não tenho faculdade e eu olho e vejo que as UPAs não tem estrutura para receber esse tipo de pessoas, que está com problema no coração, que está sofrendo um AVC. Eles não conseguem dar esse socorro a essas pessoas. Então assim, se existe esse programa Cross eles precisam pedir urgência, urgência mesmo para essas pessoas irem”, disse Luciana.
Sobre a questão do Leandro estar cadastrado ou não no sistema Cross, nós procuramos a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo que informou o seguinte: o paciente deu entrada no Hospital Luzia de Pinho Melo no dia 21 de outubro, tendo sido inserido, via Cross, no dia anterior, às 22h. Disse ainda que, no momento, o paciente passa por cuidados intensivos, entubado, sob ventilação mecânica e sendo assistido por equipe médica multidisciplinar. A nota diz que a Cross não nega vagas, é apenas um serviço intermediário entre os hospitais.
Já a Prefeitura de Mogi das Cruzes falou que a primeira inserção foi feita no primeiro atendimento, em 18 de outubro. Reforçou que o tempo de transferência depende da liberação da vaga no sistema estadual Cross. Também falou que na semana passada uma equipe técnica da secretaria de saúde se reuniu com as irmãs do paciente onde foram feitos apontamentos e que informações foram enviadas via ofício para organização social que é responsável pela gestão da UPA para que ela analise e responda sobre os ocorridos.
Em relação à fala do secretário de Saúde, na semana passada na Câmara, disseram que alguns municípios da região adotam a prática de buscar atendimento em Mogi das Cruzes para ter acesso ao Luzia de Pinho Melo, desde de que o hospital deixou de ser portas abertas. Falou que a UPA é uma unidade SUS e não pode negar socorro para nenhum paciente, embora seja custeada com recursos municipais. Sobre eventuais contratações, disse que atualmente as upas trabalham com as equipes completas e sem déficit de profissionais.
Reclamações sobre o Hospital Luzia de Pinho Melo
Ainda falando dessa burocracia na saúde, nós recebemos o relato de familiares de uma jovem, de 22 anos, que sofreu um acidente de moto no dia 8 de outubro, em Mogi das Cruzes, e está há quase um mês esperando por uma cirurgia na coluna, no Hospital Luzia de Pinho Melo.
Segundo a família, Raquel Vieira Lima sofreu duas fraturas na coluna e uma no pescoço. Desde então, ela já foi levada para hospitais em Guarulhos e na capital, com a promessa de que faria a cirurgia na coluna, mas até então não passou pelo procedimento.
A irmã da jovem diz que as justificativas são a falta de insumos para a cirurgia e também de profissional especializado para fazer o procedimento. Nós questionamos o governo do estado, mas até o momento não tivemos retorno.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que a paciente está regulada para transferência nos próximos dias para o Hospital Padre Bento, em Guarulhos e que a depender das condições clínicas da paciente, o procedimento cirúrgico será realizado no começo da próxima semana.